"Não sei por onde começar esta carta que já nasce atrasada, pensamos sempre que temos muito a dizer mas as palavras são pouco amistosas, onde encontrá-las agora, às três e dez de uma madrugada em que me encontro insone e pensando?
Eu errei por não permitir que você me oferecesse seu afeto, eu errei ao sobrevalorizar um risco imaginário, eu errei por achar que existem amores menores e maiores, avaliados pelo tempo investido, pela contagem dos beijos, pelas ausências sentidas, por tudo isto fui conduzida a um erro de cálculo.
Não te peço nada além de compreensão, e esta carta nem era para pedir, mas para doar, eu que sempre me achei boa nessas coisas, a voluntária da paz, a boa-gente oficial da minha turma.
Talvez não seja da minha índole agir com generosidade, é de família esta minha dificuldade em fazer os outros felizes, mas, ao contrário, é dom da tua, pois fizeste da tua felicidade a minha clausura. Que mistério é esse de tornar uma mulher apática a rainha da euforia, de fazer de uma mulher séria a senhora da galhardia, de fazer de uma mulher só uma mulher mais só ainda, por não antever mulher alguma que consiga repetir esta aventura?
Menina, por um triz não fui o que esperavas de mim, faltou-me a coragem, não faltou-me a fissura. Para sempre estarei a te escrever esta carta mentalmente, confusa e fria, mas não impura, já que nela abdico dos meus erros e acertos.
Sou mais uma dessas boçais que escreve tudo aquilo que deveria ser falado, e você é mais uma vítima que jamais vai ter atentido o seu desejo: saber. Mesmo consciente da sua boa vontade de me ouvir e entender, lhe escrevo, não posso ir além, não peça para remeter-me, esta carta não é para chegar, é uma carta de ficar.
Para mim e para você, escrevo que, daqui de onde me encontro, você está longe e perto, e eu estou sozinha e não. Do que sinto, aviso que é forte mas não é perigoso, é como um grande lago sereno, eu sou o píer, quase me precipito, você é todo o resto, toda água, tudo o que há. Mas somos dois e em vez de par, somos ímpares. Estou possuída por você e ao mesmo tempo permaneço impermeável, amo a seco, e rendida.
Mas você é ligeira, em movimento constante, você não senta, não repara, quer vida demais, sedenta, me fisgou muito rápido, e eu sou lenta, estudada, incapaz de um repente, apaixonada por uma mulher impaciente, que suplica com o olhar e não espera, você se foi, em frente, quando deveria ter ficado."
Eu errei por não permitir que você me oferecesse seu afeto, eu errei ao sobrevalorizar um risco imaginário, eu errei por achar que existem amores menores e maiores, avaliados pelo tempo investido, pela contagem dos beijos, pelas ausências sentidas, por tudo isto fui conduzida a um erro de cálculo.
Não te peço nada além de compreensão, e esta carta nem era para pedir, mas para doar, eu que sempre me achei boa nessas coisas, a voluntária da paz, a boa-gente oficial da minha turma.
Talvez não seja da minha índole agir com generosidade, é de família esta minha dificuldade em fazer os outros felizes, mas, ao contrário, é dom da tua, pois fizeste da tua felicidade a minha clausura. Que mistério é esse de tornar uma mulher apática a rainha da euforia, de fazer de uma mulher séria a senhora da galhardia, de fazer de uma mulher só uma mulher mais só ainda, por não antever mulher alguma que consiga repetir esta aventura?
Menina, por um triz não fui o que esperavas de mim, faltou-me a coragem, não faltou-me a fissura. Para sempre estarei a te escrever esta carta mentalmente, confusa e fria, mas não impura, já que nela abdico dos meus erros e acertos.
Sou mais uma dessas boçais que escreve tudo aquilo que deveria ser falado, e você é mais uma vítima que jamais vai ter atentido o seu desejo: saber. Mesmo consciente da sua boa vontade de me ouvir e entender, lhe escrevo, não posso ir além, não peça para remeter-me, esta carta não é para chegar, é uma carta de ficar.
Para mim e para você, escrevo que, daqui de onde me encontro, você está longe e perto, e eu estou sozinha e não. Do que sinto, aviso que é forte mas não é perigoso, é como um grande lago sereno, eu sou o píer, quase me precipito, você é todo o resto, toda água, tudo o que há. Mas somos dois e em vez de par, somos ímpares. Estou possuída por você e ao mesmo tempo permaneço impermeável, amo a seco, e rendida.
Mas você é ligeira, em movimento constante, você não senta, não repara, quer vida demais, sedenta, me fisgou muito rápido, e eu sou lenta, estudada, incapaz de um repente, apaixonada por uma mulher impaciente, que suplica com o olhar e não espera, você se foi, em frente, quando deveria ter ficado."